Durante cerca de 20 anos, Francisco Isolino de Siqueira tem suas crônicas publicadas semanalmente no jornal Correio Popular, de Campinas. Escrevendo sobre o quotidiano da cidade e das pessoas que povoam sua vida, o advogado, jornalista e professor analisa e acompanha as condições econômicas, político-sociais e afetivas que definem os relacionamentos de seu tempo. Sempre através de verdadeiro diálogo com seu "leitor e amigo".

Seja destacando as obras desenvolvidas pelas entidades assistenciais da cidade e chamando o leitor à participação eficiente, seja incentivando os jovens à leitura e à inserção na vida política de sua comunidade ou ainda, relatando com humor as histórias de seu primo, "aquele que sofre do fígado", Isolino de Siqueira desenvolve estilo próprio e marcante de registrar, em forma de crônicas, o mundo à sua volta e também aquele dentro de si.

As crônicas publicadas neste blog são amostras de seu estilo literário cativante, original e pessoal, que conquista o leitor, mantendo vivas as suas mensagens, poesia, beleza e valores atemporais.

Boa leitura. Ou melhor, bom diálogo com este corintiano "irmão de quotidiano".

"Se eu pudesse recomeçar eu procuraria fazer meus sonhos ainda mais grandiosos porque essa vida é infinitamente mais bela e esplêndida do que eu pensava, mesmo em sonho". - Francisco Isolino de Siqueira

(trecho extraído da crônica "Colóquio")

sábado, 1 de outubro de 2011

Meu pai e a Academia

Escrevo estes apontamentos nesta sexta-feira, 5 de novembro, aniversário de meu pai, Hildebrando Siqueira, morto aos quarenta e dois anos e que agora completaria setenta e oito - poderia estar vivo e nós dois a trocar estes registros nas conversas que mantínhamos ao pé das estantes, na casa cheia de livros e criança. Dá-me vontade de relembrá-lo mais uma vez quando leio a notícia da eleição de novo membro da Academia Brasileira de Letras, entre os nomes que disputavam uma das vagas existentes - exatamente aquele que nos parecia, a todos, pela ordem natural dos valores, o que deveria aguardar nova oportunidade. Meu pai prezava, sobremaneira, a Academia e, por extensão, todo e qualquer instituto cultural que o mantivesse em permanente diálogo com todos os interessados, na difusão dos conhecimentos, fossem literários ou políticos ou, ainda históricos. Era membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, graças às obras que publicara a respeito da história dos franciscanos na zona de Amparo e Serra Negra. Da própria história de Serra Negra e a respeito do Morgado de Mateus e outras figuras da Colônia. Fazia parte, ainda, por trabalhos literários e históricos que apresentara, ao Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas, ao PEN Clube Internacional, ao Instituto de Heráldica e, o que mais me chamava a atenção era o fato de que comparecia a todas as reuniões.

E, dizia, durante os nossos colóquios, que cultura nada mais representava senão a experiência partilhada e que não havia nenhum valor em conhecer sem divulgar. Em ler sem discutir, e assim preconizava os encontros literários e culturais, entre afins, como a solução para a própria saúde da alma humana. As Academias, dizia Hildebrando Siqueira, - poeta e jornalista, historiador e orador significativo - significam o ponto alto dos encontros intelectuais, não apenas a premiação, o galardão que se entrega a quem dele faz jus, mas o marco, sinal, roteiro, do próprio pensamento cultural caboclo e deve ser, a Academia, o permanente diálogo das grandezas da própria sensibilidade.

Pertenço à Academia Campinense de Letras - com muito poucos méritos e quando eleito escolhi para meu patrono meu Pai, Hildebrando Siqueira, convencido de que dele deveria ser a cadeira que ocupava, ele sim, o literato por excelência, mas e principalmente porque senti que deveria mantê-lo conosco, ali naquele novo cenáculo, para que continuasse o diálogo da própria cultura, por minha alma e meu comportamento como se fora, o meu próprio corpo, e extensão de sua enorme sensibilidade. Porque prezava as Academias e mais do que todas a Brasileira de Letras, e porque defendia a importância dos encontros culturais preconizo em sua memória nossa Academia Campinense de Letras neste novo ano de trabalho, a função político-social dentro do campo da cultura, de centro aglutinador de estudos, reflexos, orientação de inteligência para a inteligência que se deve forrar de novos conhecimentos e mais do que tudo isto, aquela que se deve enriquecer com a troca esplêndida que se efetiva no diálogo constante. Às academias está reservado o papel de sinalizador dos tempos - não apenas apelo e advertência, mas pronunciamento engajado e definidor, através da cultura e da experiência partilhada, a fim de que a verdade se instale - como o único remédio à própria dignidade humana - verdade que agrida e por isso mesmo desperte.

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