Em outras palavras estou sutilmente me despedindo dos prováveis e incansáveis leitores com os quais me encontro todo fim de semana, neste canto de coluna. Aproveito as férias forenses e isto quer dizer que as gozarei fora da Comarca, para me utilizar deste quase infantil jogo de palavras. É viagem reclamada há um mundo de tempo, vamos à Bolívia rever onde nasceu minha mulher. Seus parentes, e, decerto, promovermo-nos em turistas para gravar de diversa maneira a paisagem dos homens e da terra. Por isso me ocupo, hoje, nesta sexta-feira, primeira de julho, mês de muito carinho, em conversar amenidades e me esqueço da desindexação, dos prováveis movimentos intestinos que podem afetar o esfíncter da abertura, os salários que jamais acompanharão o custo do dinheiro, o livre jogo dos interesses internacionais que nos atrelam, silenciosamente, àquele carro que Dante descreve não sei mais em que parte da Comédia Humana. Mais provavelmente nos cânticos do inferno. Vou arrumar as minhas malas - e a bagagem não vai ser muito grande e menos ainda pesada ou incômoda. Sempre desejei, pela vida a fora carregar pouca coisa - mesmo porque me garantem que para ascender é preciso não ter nada nos bolsos para não ser retido na terra, pelo peso. O que coloco nas valises? O necessário para a cobertura cordial do corpo no protocolo da vida, instrumento para limpar o rosto da barba e os dentes após os atos da liturgia da fome. E, quem sabe mais alguma coisa que me ocupe os possíveis momentos de espera.
Livros? Um ou dois no máximo, com certeza o missal quotidiano e um livro de poesias de Claudel, homem e ritmo que me conduzem, de novo, para pontos mais altos no relevo da alma humana. E, isto é bom principalmente quando se voa através dos céus que se estendem entre os homens, e, felizmente, sem fronteiras ou exigências legais. Será bom deixar que a agenda dos atos diários fique na pasta? E, que ali, estão os farrapos do passado, de todos os momentos de meu dia, sempre ocupado, letra aflita, a marca dos problemas do homem, às vezes a linha coberta de vermelho, como se eu fosse autor da extinção de mais uma preocupação humana. Mas, os documentos é preciso levar - carteiras e números - erregês e cepeéfes.
Será que não estou esquecendo nada? Façamos rápido inventário das emoções que jamais me deixam e que compõem curiosamente, o painel de meus sentimentos e percebo que carrego enorme dose de alegria porque me convenço que não adoto a viagem como aquela fuga, seja ela do quotidiano ou de mim mesmo. Quando me distancio de meu momento, daquele lugar que ocupo na minha própria promoção e dos meus irmãos de quotidiano, da casa, dos livros, dos amigos e da realidade que desenvolvo - quando me afasto no tempo e no espaço, gostosamente adquiro a capacidade de enxergar melhor tudo e todos, a perspective se torna mais ampla, é como se saísse de mim mesmo, do espaço e do tempo em que vivo e pudesse ver tudo isto por fora. E, como é bom este estado ao qual não sei como chamar - quando nos colocamos diante de nós, de todos, da verdade e aplicamos as cores de outra paisagem, o destino do homem diferente daquele que conhecemos, hábitos e gestos e eis como deduzir o quanto somos ricos e capazes de amar. Por isso a viagem me faz bem - a viagem longa ou de poucas horas - desde que me permita sentir-me estranho à terra e à gente e com alegria convencer-me da beleza deste grande e saboroso festim, no qual somos quem sabe, o mais picante dos condimentos. As malas estão fechadas e no mesmo ato abrem-se, enormemente os olhos e o coração, bem receptivos, como as velas pandas dos descobrimentos, gordas e travessas cheias de vento coragem.
Oi Professor Isolino, adorei este texto tambem, o senhor descreve tao bem o sentimento de distanciamento que sentimos as vezes.
ResponderExcluirAbracos