Pegue na mão da companheira e se ela, a mão, estiver fria, há oferta em seu coração. Daí você pode sentar diante de seus olhos e se eles boiarem num brilho estranho, como abundante banho de lágrima, convença-se de que todo o calor se transfere para a matriz do amor. E, fique à vontade. Pode confessar-lhe que as pernas tremem e que nunca o seu coração corre tão depressa. E que sabe, o coração, onde quer chegar. Acompanhe-o.
Você lê o livro de poemas debaixo daquela árvore no fim da tarde, quando o sol abusa, no horizonte, da própria valentia. Veja se consegue completar o quadro, e não fique ali sozinho. Livro de poemas exige companhia. Porque, de vez em quando, é preciso parar. E é importante encontrar aquela outra forma de emoção. Viva. Morena. Disposta à rima.
A cadeira de balanço é hipnótica. Sento-me nela para ler e para estudar. Mas, na verdade ela me embala e me rouba do próprio mundo. Fico tão distante, às mais das vezes de mim mesmo, que me julgo aquele acendedor de lampiões. Aquele mesmo, a percorrer estrelas, com algum pouco de luz nas próprias mãos. E, então, descubro que o livro devolve o brilho à sensibilidade.
A dança é o poema do corpo. A música o mais sério compromisso com o belo. Gosto de reuni-las em boa companhia. É gostoso descobrir que para exercitar a beleza é preciso ser dois. É questão de segurança. É preciso dividir a alegria da própria emoção.
Os pássaros pequeninos fazem o ninho na pequena árvore que fica perto à porta da sala de meus livros. São sonoramente delicados. O seu bico-de-lacre alimenta o momento da nova vida.
Gosto da multidão. Do vai-vem das ruas. Sinto-me ousadamente multiplicado. Depois posso ficar a sós. É como realimentar a coragem para continuar a própria descoberta.
Procure o barzinho da madrugada. Vá com alguém que saiba interpretar gestos noturnos, sons boêmios e que carregue aquela luz interior que dispensa o candieiro. Fique à vontade mesmo diante da surpresa dos companheiros notívagos. Pode crer que morrem de inveja.
Os olhos acrescentam à boca mais palavras do que as proferidas. E é interessante como fica muito mais exposta a nossa alma. Ela participa do diálogo bastante emocionada. E é fácil compreender a razão da própria vida.
Vocês viram quanta coisa se revela quando se descobre o porquê do pingo de perfume atrás de cada orelha. Mas é preciso descobrir com a ousadia do próprio olfato. É como entorpecente. Vicia.
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