Descobrimos o amigo íntimo nada mais do que de repente, sem sinais externos, marcas, e ele se comporta aparentemente da mesma forma como agem todos os outros que conosco convivem. Entretanto, sentimo-nos bem a seu lado, convocamo-lo com freqüência para a nossa amargura. Sem que nenhum dos dois perceba ambos vivem o mundo do outro, entre os seres que formam a paisagem de cada um. A paisagem física e aquela que tem, no horizonte doméstico, as criaturas como projeções que se identificam à luz do amor necessário. E à medida em que nos conhecemos, de verdade, mais e melhor se alicerçam os sentimentos. Descobrimos estranhas identidades, semelhanças que devem ser, com certeza, imagens de nossa própria alma. Como somos iguais, nos dizemos com alguma convicção, que se torna decisiva quando descobrimos mais e significativos valores.
O amigo íntimo respeita. Nós nos enxergamos nele como somos realmente, com todos os nossos defeitos e eis aqui o que de mais importante acontece dentro de nós mesmos. A esta criatura podemos descobrir-lhe os nossos erros, aqueles miúdos crimes da própria consciência. Ele nos pune suavemente.
Ele nos sanciona ofertando-nos a própria humanidade - conta-nos como se multiplicam as derrotas de seu quotidiano, os pecados que pratica contra o ato de amar. E nos convence que neste procedimento reside o maior dos crimes, aquele que nos revela capazes de não querer amar. Por isso o amigo íntimo é decisivo, carecemos dele, oxigena, é prêmio quando nos convence da própria vitória. E o mais extraordinário de todos os sentimentos é aquele que traduzimos na descoberta que nos prova que ele é responsável por nós. É a resposta que reclamamos, ao infinito, para todos os nossos atos, em todos os instantes, quase miudamente. Porque a resposta contém o diálogo entre o sim e o não. É a solução preciosa deste momento de riqueza comum a definição do norte e roteiro.
Nós nos construímos neste amigo, porque em suas respostas ouvimos a nossa própria voz. Nós nos recriminamos, nos apludimos, gargalhamos como necessários palhaços, umidecemos os próprios olhos, comovemo-nos. Tudo isto em seus próprios gestos, os do amigo, atos e marcas da emoção, nele nós nos corrigimos e ao próprio rumo, graças a este magnífico amor repartido.
Você gosta de alguém, de verdade? Deseje-lhe um amigo íntimo.
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