Aproxima-se o mês de junho e sinaliza a sua chegada com este princípio de frio que nos leva a curtir cama e vinho em boa companhia. Maio de festas religiosas não me estimula tanto quanto este mês subseqüente, durante o qual há outras festas, também religiosas, mas que permitem um pouco mais de barulho. Às vezes me pergunto por que me agradam esta aparente desordem da alegria e as aglomerações, gente, muita gente, todo mundo junto com pretexto ou mesmo sem motivo algum. Tenho alguns meses prediletos. Fevereiro por causa do Carnaval, junho e suas festas características e dezembro com o movimento esplêndido do gostoso reencontro com o novo. Junho é o mês moleque de traques e busca-pés, que se aquece em fogueiras que esparramam brasa e cinza por todo o quintal. Balões, fogos de artifício, os pátios antigos forrados de bandeirolas coloridas, recortadas em papel de seda pela família inteira, desde papai ao menorzinho dos que adoram a folia que os três simpáticos santos permitem. E as tais iguarias, comidas típicas, apropriadas àquele momento, preparadas à margem da tropelia dos perseguidos pelos pequenos rojões atirados aos seus pés.
Mudou junho ou muda alguma coisa aqui dentro, apesar da insistência do moleque que se alimenta de saudade? O que me falta para armar com a mesma madeira o instante de calor para que estourem os grãos de pipoca? Assusta-me à luz deste fogo, que com certeza é bendito, a descoberta de tantos sinais do tempo. Há cabelos brancos, rugas e o susto da própria imagem. Mas, tudo isto é aqui por fora, não há cãs na alma, o espírito se não enruga, vive no mesmo território do menino de calças curtas, boné na cabeça, na desesperada disposição de esconder os cachos do cabelo revolto. Por que esquecê-lo e em nome de que regras colocar o muito de mim mesmo de castigo, comportado, à beira de tanta fogueira, onde derretem batatas doces e se aquece a pinga do quentão?
Como aborrece a polícia das convenções. O que, entretanto, não me afasta dos meus padroeiros, Santo Antônio, São João e São Pedro. Protetores não do homem que se reveste de solenidade, mas do peralta, que se aproveita do susto do rojão e rouba o primeiro beijo da vizinha assustada. Da filha da vizinha.
Não há mais quintais ou pátios? Acenda o gás do fogão. Faça a sua fogueira e que importa que seja apenas aquela chama pequena e azul. De verdade as fogueiras de junho estão acesas aqui dentro, de todos os que foram e são moleques e que se armam de coragem para ainda correr atrás de tantos balões, estes que se movimentam em céus particulares ou públicos. Não se preocupe. Compre pacotes de pipoca que se vendem por aí, o amendoim do supermercado, pinga da boa e misture este líquido com qualquer coisa com paladar de gengibre. Mas desligue a televisão. Não faça muita fumaça. Assustam-se os vizinhos. Rojões e busca-pés? Há sindico em seu prédio? Parece que se isto acontece as coisas se complicam de tal sorte que me parece mais cômodo apenas acender a fogueira do seu coração, como acompanhamento necessário às letras da música antiga.
Ficar em casa nestas noites de junho, nos dias de festa maior, dos santos padroeiros desta santa folia é pelo menos crime de lesa inteligência. Saiam por ai, há praças e jardins onde alguém, inteligentemente há de acender algum fogo, ou fogueira mesmo ou curti-los ao fogo e fogueira em homenagem à lua e estrelas. É tão simples repetir-se moleque em junho. Se você tem vergonha de ser visto pelos amigos que o conhecem apenas engravatado, tire a gravata. Estas festas reclamam apenas o agasalho da alegria. Porque depois o quentão completa a quantidade das calorias exigidas para o riso fácil. E você já viu por acaso, moleque de cara fechada? Que vergonha você não estar apaixonado em junho.
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